Uma grande equipe multidisciplinar integrada por urologistas, cirurgiões cardiovasculares, anestesiologistas, perfusionistas, cardiologistas e enfermeiros do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (HUMAP-UFMS), realizou uma cirurgia onco-urológica inédita no estado de Mato Grosso do Sul.
De altíssima complexidade, esta cirurgia retirou um tumor maligno renal de um paciente jovem que, a princípio, foi considerado inoperável, já que o câncer extrapolava os limites do rim direito, invadia a veia cava inferior retro-hepática (maior veia do corpo humano) e atingia ao átrio direito, no interior do coração.
O paciente D. B. T., de 35 anos, recebeu alta hospitalar neste mês de outubro, em ótimas condições gerais e sem quaisquer sequelas neurológicas ou sistêmicas no décimo dia de pós-operatório, caminhando pelos corredores do hospital sem auxílio direto.
O cirurgião Mário Augusto Freitas, professor da Faculdade de Medicina da UFMS e atual Chefe da Unidade do Sistema Cardiovascular, que integrou a equipe multidisciplinar, explica que, devido à altíssima complexidade desta modalidade de cirurgia, é necessária uma grande logística e integração multi e transdisciplinar, planejamento cirúrgico, equipamentos e uma grande estruturação institucional. Este conjunto de eventos, orquestrados adequadamente entre as duas especialidades cirúrgicas envolvidas, permitiu ao HUMAP-UFMS o pioneirismo neste tipo de cirurgia em nosso Estado.
“Para esta cirurgia ocorrer é necessário uma estrutura bastante complexa para sustentar uma hipotermia profunda no intra-operatório bem como um excelente suporte intensivo de pós-operatório, os quais devem oferecer meios para que se recuperem as condições funcionais dos diversos sistemas orgânicos do paciente que são afetados por uma cirurgia de tão grande porte”, afirma o Dr. Mário Augusto Freitas.
“Além disto, a grande complexidade anatômica das estruturas envolvidas exige, para que se possa abordá-las com segurança, cirurgiões hábeis e com treinamentos bastante específicos em suas especialidades (urologia e cirurgia cardiovascular), bem como uma grande capacidade de integração entre estas equipes. A abordagem torácica e abdominal combinadas para esta operação é algo desafiador”, afirma o Dr. Amaury Mont’ Serrat Dias, professor da Faculdade de Medicina da UFMS e integrante da equipe multidisciplinar.
EXPECTATIVAS
O caso do paciente era muito grave e sua expectativa de vida, caso não fosse operado, era muito baixa (entre 3 a 6 meses). Após a operação, esta expectativa e, principalmente, a qualidade vida do paciente, aumentou bastante.
“Como o paciente não apresentava metástases detectáveis em outros órgãos, com o rigor oncológico obtido na ressecção do tumor e o sucesso atingido pela cirurgia, o paciente passa a ter perto de 60% de chance de atingir e ultrapassar 5 anos de expectativa de vida e tem devolvidas suas esperanças de atingir critérios temporais de cura clínica para este tipo de tumor”, explica o Dr. João Juveniz, professor de medicina da UFMS e integrante da equipe multidisciplinar.
RISCOS
Hemorragia de grande volume (ou mesmo incontrolável), danos estruturais aos diversos órgãos (fígado, intestinos e rim remanescente) por isquemia (falta de circulação), alterações metabólicas severas e danos neurológicos com sequelas permanentes são alguns dos principais riscos que a equipe de cirurgia teve que controlar durante o procedimento cirúrgico.
“Os tumores renais são cânceres com altos índices de cura cirúrgica, entretanto, nesta forma de apresentação, pelas dificuldades técnicas impostas pela invasão da veia cava retro-hepática e do coração, ocorre uma inversão no destino destes pacientes, pois são pouquíssimos os hospitais no Brasil que executam este tipo de cirurgia. Agora, o HUMAP-UFMS integra este rol de instituições que podem auxiliar este grupo de pacientes da Onco-Urologia”, afirma o Dr Mário Augusto Freitas.