“Respeito dá o tom”. Com este apelo de conceito e conscientização afirmativa, a Aegea, holding da Águas Guariroba, lançou um programa focalizado na mobilização e no compromisso de toda a sociedade em favor da convivência e contra quaisquer formas de discriminação, com ênfase na racial. O lançamento, no dia 26, assinalou os valores incorporados ao programa, como o enfrentamento do racismo associado à busca de oportunidades no mercado de trabalho.
Os dirigentes da Águas Guariroba entendem ser imprescindível contribuir para a redução da desigualdade verificada no Brasil. A maioria da população (54%) é formada por pessoas da raça negra. Porém, nas maiores empresas que operam no país, apenas 4,7% dos quadros executivos ou postos de direção e 6,3% dos postos de gerência são ocupados por negros.
A concessionária tomou essa iniciativa propondo também que os funcionários de uma empresa com a missão de ampliar o acesso dos brasileiros à água e ao esgoto tratados reflitam a diversidade da população atendida. “Movidos pela vontade de quebrar essas barreiras formadas por preconceitos históricos, a Aegea se une a essa causa e convida todos a compartilharem dessa caminhada que começa por Campo Grande e deve ser estendida a todas as cidades onde está presente. Um convite para que ajudem a compartilhar a ideia de gerar oportunidade para o negro no Brasil”, afirmou o diretor regional da Aegea, Radamés Casseb, ao abrir o evento, no Yotedi.
MOBILIZAÇÃO
Artistas, representantes do poder público e de movimentos que lutam pelos direitos dos negros em Campo Grande prestigiaram o lançamento. Um dos líderes do programa e executivo da Aegea, Josélio Alves Raymundo, contou como sentiu na pele a desigualdade racial. “No meu ambiente de trabalho, via que era um dos únicos negros ali. Tive condições de estudar e achei que esse cenário mudaria com o tempo, mas não foi o que aconteceu”.
O programa “Respeito dá o tom” está sustentado por três pilares de atuação: empregabilidade, desenvolvimento e relacionamento. “Iniciamos com rodas de conversas sobre o assunto, convidamos representantes dos movimentos para conversar com nossa equipe. Criamos um comitê de igualdade racial em cada região. O programa está ganhando força com a implantação nas 48 cidades atendidas pela Aegea”, explicou Raymundo.
SELO
A Aegea recebeu o selo “Sim à Igualdade Racial”, do ID_BR – Instituto Identidades do Brasil –, organização sem fins lucrativos que atua na promoção de direitos humanos e na luta pela igualdade racial, por meio da inserção no mercado de trabalho. “O selo simboliza as práticas que serão adotadas pela empresa. Agora precisamos fazer a igualdade racial sair do papel”, disse a diretora do ID_BR, Luana Genot, que conduziu o Jogo do Privilégio Branco com os presentes. Por meio de perguntas sobre a trajetória de vida, participantes brancos e negros passavam à frente ou para trás, retratando a desigualdade racial.
Também abrilhantaram o evento representantes históricos dos movimentos pelo direito dos negros, entre os quais os advogados José Roberto Camargo de Souza e Aleixo Paraguassu, que foi juiz de direito e fundador de um instituto para apoiar jovens a ingressarem na universidade.
“A trajetória que culmina neste evento remonta a séculos de políticas de resistência, que teve início com um navio trazendo 20 milhões de negros para as Américas”, atentou Paraguassu, defendendo a importância de ações afirmativas de reparação dos direitos negados à população negra durante a história do Brasil. Por sua vez, a procuradora de Justiça Jaceguara Dantas Passos também exaltou a dimensão do compromisso da sociedade com o acesso da população negra a oportunidades de estudo e trabalho.
O evento contou com exposição de objetos e peças de artes: as bonecas negras Abayomis, produzidas pelo Coletivo de Mulheres Negras de Mato Grosso do Sul Raimunda Luzia de Brito. Também foi exposta a série de quadros Ojá – retratos de mulheres negras, da artista plástica Erika Pedraza. As mulheres presentes puderam participar ainda de uma oficina de turbantes, com Ângela Epifânio. A curadoria da exposição foi de Galvão Pretto, que expôs sua obra “Bichos”.