O presidente Michel Temer (PMDB) por pouco não conseguiu emplacar a que seria a marca inédita e mais vergonhosa de um mandatário brasileiro: o índice zero de aprovação popular ao governo. De acordo com o CNI/Ibope, só 3% da população brasileira o aprovam, uma queda de dois pontos porcentuais em relação à última pesquisa, divulgada em julho.
Em contrapartida, subiu de 70% para 77% o número de pessoas que consideram a administração do peemedebista ruim ou péssima. O governo é visto de forma regular por 16%, enquanto 3% não sabem ou não responderam. A pesquisa mostrou que só 6% da população mantêm perspectivas ótimas ou boas com relação ao restante do governo — 72% manifestaram impressões negativas.
Pior até que a antecessora Dilma Rousseff (PT), de quem era o vice, Temer tem sua maneira de governar aprovada por apenas 7% e desaprovada por 89% das pessoas. Já 92% disseram não confiar nele. Os pesquisadores pediram aos entrevistados que apontassem espontaneamente duas notícias veiculadas sobre o presidente nas últimas semanas. O assunto “corrupção no governo” foi citado por 23%. A Operação Lava Jato foi lembrada por 11%, enquanto 7% das pessoas mencionaram a mala com os R$ 51 milhões atribuídos ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), amigo e ex-homem forte de Temer. No total, 44% mencionam temas ligados à corrupção.
A avaliação de que o governo do presidente Michel Temer é melhor do que a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff registrou queda de 11% para 8%, entre julho e setembro deste ano, mostra a pesquisa Ibope. A parcela da população que considera que o governo Temer é pior do que o da petista aumentou de 52% para 59% de uma edição da pesquisa para a outra. Para 31%, os dois governos são iguais, ante 35% no levantamento anterior. Outros 2% não sabem ou não responderam.
A atuação do governo Temer em relação aos impostos teve a pior desaprovação entre as nove áreas pesquisadas. A desaprovação nessa área atingiu 90%, ante 87% apurados em julho deste ano. A segunda área com maior desaprovação é a taxa de juros, citada por 87% dos entrevistados. O porcentual aumentou em relação a julho (84%), mesmo após o Banco Central anunciar, no início de setembro, o oitavo corte consecutivo na taxa básica de juros da economia (Selic) para 8,25% ao ano, o menor nível desde maior de 2013.
Realizado de 15 a 20 de setembro, o levantamento ouviu duas mil pessoas em 126 municípios. A margem de erro estimada é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos e o nível de confiança utilizado é de 95%.
VALE-TUDO PARA LIVRAR O PESCOÇO
Michel Temer está muito mal na foto do prestígio popular, com apenas 3% de aprovação ao seu governo e quase 80% de reprovação. Todavia, não pode se queixar do respaldo político que ainda tem para salvaguardar sua faixa presidencial enquanto isso depender do veredito congressual. Sua base de apoio pode ser episódica e superficial, porque se mantém a base de agrados, mas é forte e tem o controle dos postos-chave pelos quais vão tramitar os processos que contêm ameaças ao mandato.
Alvo de nova denúncia da Procuradoria-Geral da República, que pediu ao Congresso Nacional autorização para o presidente ser processado, Temer mexe os pauzinhos para manter coesos seus aliados. O ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), cacique do PR e condenado no processo do mensalão, reivindica a Secretaria de Portos. O PP, que estava irrequieto, ficou satisfeito com a superintendência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), homem-forte da tropa de choque de Temer, foi escolhido relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, cujos donos são delatores premiados de Temer. Nos bastidores, houve pressão do PMDB e do governo para que Marun fosse escolhido. Feliz, Marun acaba de emplacar um apadrinhado, Paulo Rios, na chefia regional da Funai, em Campo Grande.
Para completar o arco de controle a seu favor, Temer manobrou para que o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) fosse indicado relator da nova denúncia da PGR. Também são alvos da denúncia, entre outros, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). Caberá a Andrada formular um parecer pela aprovação ou rejeição da denúncia. O relatório dele será submetido à análise da CCJ e, depois, à votação no plenário da Câmara. Quando a primeira denúncia contra Temer, por corrupção passiva, foi analisada no plenário, Andrada votou a favor do presidente.