Não se faz juízo de valor sobre pessoas que, mesmo denunciadas pelos órgãos de combate à corrupção, não receberam sentença judicial ou sequer foram submetidas às barras dos tribunais para o devido a julgamento. E enquanto os trâmites processuais se arrastam indefinidamente, a sociedade vive o impasse da dúvida sobre em quem confiar e em quem votar – boa parte das lideranças políticas postas sob suspeita pelas operações anticorrupção cogita ficar fora da lista dos fichas-sujas para disputar mandatos eletivos em 2018.
Só nos últimos cinco anos em Campo Grande foram deflagradas mais de uma dezena de intervenções especiais de forças-tarefa focalizando nichos locais e nacionais de desvios de verbas públicas. Entre outras, destacam-se as operações Sangue Frio, Coffee Break, Lama Asfáltica e as derivadas, como a Fazendas de Lama e Aviões de Lama. Efetivos das polícias Federal, Civil e Militar; Controladoria-Geral da União (CGU); Receita Federal e Ministério Público desdobraram-se para apurar, investigar e denunciar esquemas criminosos envolvendo altas autoridades, políticos e empresários de renome.
ANDREZISTAS NA MIRA
Um dos denunciados mais famosos é o ex-governador André Puccinelli, nome do PMDB para a sucessão estadual, apesar do profundo desgaste a que foi submetido por causa da Operação Lama Asfáltica. É bem verdade que algumas punições já alcançaram amigos e aliados de Puccinelli, como o bloqueio de bens, a apreensão de veículos e aeronaves, a prisão e até a colocação das tornozeleiras eletrônicas com as quais as autoridades monitoram os acusados. Nem Puccinelli escapou da tornozeleira, que carregou durante uma semana. Ainda não se sabe quando denunciados e réus serão julgados para receber sentenças de condenação ou absolvição.
Pesa contra Puccinelli um conjunto de indícios que reforçam a certeza do MP sobre seu papel de “cabeça” de um esquema de desvios milionários, notadamente com o apoio de empresas amigas, como as empreiteiras do construtor João Amorim e a Gráfica e Editora Alvorada, de Mirched Jaffar Júnior, por onde, segundo o MP, foram drenados recursos amealhados mediante fraudes ou processos licitatórios viciados. Ainda não se sabe quanto em verdade somam esses desvios, mas levantamentos iniciais dão conta de movimentações em torno de R$ 2 bilhões com tais empresas nos oito anos do governo de Puccinelli (de 2007 a 2014).
Outra ponta de suspeita que compromete a imagem política do ex-governador e reforça sua figura como alvo das investigações está em desdobramentos da Operação Lama Asfáltica e em casos sob apuração da PF e do Ministério Público Federal, com a presença de peças importantes do esquema político do ex-governador, a exemplo do deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS). O parlamentar não é sequer indiciado e não responde a qualquer crime, porém torna mais pesada a conta negativa de Puccinelli porque assumiu o papel de defensor intransigente do ex-deputado federal Eduardo Cunha, preso em Curitiba pela Operação Lava Jato. A proximidade política, afetiva e partidária de Marun com Cunha é muito forte, inclui uma visita ao amigo na cadeia com passagem paga pela Câmara dos Deputados e ajuda a contaminar o perfil político do principal líder peemedebista no Estado.
O superintendente da Controladoria Regional da União, José Paulo Julieti Barbiere, confirmou recentemente que em Mato Grosso do Sul o foco maior da CGU continua na esfera da Operação Lama Asfáltica. Em entrevista ao site Midiamax no mês passado, Barbiere enfatizou que a Controladoria estava examinando vários documentos apreendidos na quarta fase da operação, realizada em maio deste ano.