O combate à corrupção no Brasil precisa ser assim mesmo, do jeito que Teori Zawascki (in memorian), Sérgio Moro e Edson Fachin, entre outros, fizeram e estão fazendo: na dor. Porque não há outro resultado anterior ao cozimento do omelete que a quebra do ovo. Brasil sangra, mas é preciso sangrar. O sangue vai dar lugar à limpeza.
Para realçar a importância histórica dos dias que o Brasil vem vivendo, especialmente após a terça-feira dominada pela revelação da “lista de Fachin”, nada custa recorrer a uma antiga e sábia recomendação divina, que ficou popularizada como jargão da bondade: fazer o bem sem olhar a quem. Pois quando se faz justiça, é desse jeito que tem de ser: sem olhar a quem se atinge. Fazer justiça equivale, obrigatoriamente, a não prejudicar e nem sequer beneficiar.
O Brasil está mesmo sendo passado a limpo. Ainda é o começo e há quem duvide que este processo tenha continuidade porque são poucos os condutores da Nação livres das garras das investigações ou fora do alcance das suspeitas.
Depois de centenas de delações premiadas e de descobertas contidas em operações como a Lava Jato, 108 pessoas citadas caíram nas malhas do Supremo Tribunal Federal para investigações em denúncias de várias modalidades de crimes. Desse grupo, 98 já sofreram a abertura de inquéritos. E quase metade dos citados está acusada ou denunciada por práticas de corrupção envolvendo o uso de caixa dois em campanhas eleitorais.
A fornada investigatória envolve todo mundo, de mamando a caducando, de todos os grandes partidos e das diversas vinculações: direitistas, esquerdistas, centristas, atávicos. Gente que vive nos núcleos ou orbitando nas diversas esferas de poder. No saco de suspeições estão quatro ex-presidentes da República, dezenas de ministros e governadores, centenas de parlamentares e uma imensa legião de políticos sem mandato, empresários e lobistas.
Que sangre. Choro e ranger de dentes são inevitáveis, sobretudo para familiares e amigos que não se fartaram nesse butim. Mas a República precisa provar a si mesmo que tem salvação. Que sangre. As pessoas de bem agradecem.
GERALDO SILVA