* Por Geraldo Silva
Reconduzido à presidência da Câmara Municipal de Campo Grande, o vereador João Batista da Rocha (PSDB), conhecido como Professor João Rocha, desempenha um papel fundamental na reaproximação do Legislativo com a administração municipal, cuja relação foi extremamente abalada na gestão do despreparado e inconsequente Alcides Bernal. Formado em educação física, cumpre seu terceiro mandato aos 59 anos.
Exemplo da reconquista, acima de tudo, da respeitabilidade entre os poderes e a integração das ações visando a melhoria da qualidade de vida da população, foi a medida definida a quatro mãos pelos vereadores e a prefeitura em relação à manutenção da tarifa do transporte coletivo em R$ 3,55. O município promoveu renúncia fiscal, mas a empresa Guaicurus assumiu o compromisso de construir pelo menos 100 pontos de ônibus pela cidade.
“Isso é uma conquista para a população”, diz o presidente tucano, que, primeiro, semeou a harmonia dentro da Casa de Leis. “Temos que pensar primeiro no cidadão. O período eleitoral é um embate, uma competição, uma disputa. Conseguimos resgatar essa relação entre os poderes, todos juntos, Governo do Estado, Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores e o prefeito Marquinhos Trad”, afirma João Rocha, em entrevista exclusiva à FOLHA DE CAMPO GRANDE.
Nascido em Campo Grande, o presidente da Câmara de Vereadores atuou como técnico de desporto na prefeitura de Campo Grande durante 33 anos. Também foi diretor do Departamento de Esportes, entre 1985 e 1988; professor da Rede Pública de Ensino entre 1978 e 1995; secretário municipal da FUNESP, entre 2005 e 2008; e secretário estadual da FUNDESPORTE, no período de 1995 e 1998. Foi eleito vereador pela primeira vez em 2008.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – Em seu terceiro mandato de vereador, o senhor almeja um voo mais amplo, por exemplo, uma cadeira na Assembleia Legislativa nas próximas eleições?
JOÃO ROCHA – Estabeleci como propósito primeiro organizar a Câmara de Vereadores, criar uma estrutura de trabalho que nos possibilite aproximarmos mais da população, através da Câmara Participativa, estando mais próximo do cidadão, abrindo as portas de maneira que possamos fazer uma integração maior entre o Poder Legislativo e o cidadão. Evidentemente que nós estamos políticos e todo mundo tem seus projetos, e eu estabeleci como metas que a partir do segundo semestre fazemos estar avaliando todo o quadro, discutindo com o partido e se for vontade, for viável, podemos discutir realmente a possibilidade de uma candidatura. Mas penso que uma candidatura para ser construída tem que ter o entendimento junto ao coletivo. É dessa maneira que faço política, é assim que penso.
FCG – Que mudanças promoveu na Câmara para ajustes da gestão e alinhamento da ação legislativa depois das turbulências nos anos anteriores?
JR – Promovemos o espírito de harmonia, de integração, primeiro internamente, entre os vereadores, nossos colaboradores. E também buscar um entendimento com o Executivo. Quando somos eleitos, a população busca que aqueles escolhidos no voto, na urna, possam trabalhar pela cidade de forma harmônica. Os poderes são independentes, mas precisam ser harmônicos, e o grande avanço que acreditamos nesta legislatura foi a possibilidade de estar estabelecendo esse bom relacionamento com o Executivo. O prefeito Marquinhos Trad é bastante acessível a esta questão, entende a importância do legislativo, ele veio do Poder Legislativo e sabe da dimensão desse poder para ajuda-lo na reconstrução da nossa cidade. Então, este é o nosso objetivo maior, estabelecer a harmonia entre os poderes. E também a dinâmica aqui na Casa, com os vereadores, e também, como já disse, essa aproximação da população com a Câmara Participativa, quer em palestras em escolas, nas universidades. Realizamos agora uma sessão participativa na Acrissul, durante a Expogrande, onde ouvimos a Campo Grande rural. Somos a capital do agronegócio, então precisamos pensar também o que é necessário para o setor, o que podemos fazer, quais são as ferramentas que podemos oferecer ao Executivo para que o meio rural possa ser contemplado. Dessa maneira, estaremos diminuindo as distâncias entre os vereadores e a população e setores organizados da sociedade.
FCG – Como tem sido a relação dos vereadores com o prefeito Marquinhos? Tem havido mais diálogo, um pacto em benefício da cidade?
JR – Com certeza, e o exemplo disso foi que logo após as eleições, onde tivemos os embates eleitorais, com a presença do governador Reinaldo, a vice Rose Modesto, o prefeito eleito e os vereadores, fizemos uma grande reunião pensando na nossa cidade. Temos que pensar primeiro no cidadão. O período eleitoral é um embate, uma competição, uma disputa. Terminada essa disputa, todos nós temos que pensar e trabalhar em benefício da cidade e do cidadão. O Governo do Estado tem feito a sua parte, não só com gestos, mas com ações efetivas, contribuindo com recursos significativos para ajudar nessa força-tarefa do tapa-buraco, cujo abandono ficou tão marcado na cidade. Conseguimos resgatar essa relação entre os poderes, todos juntos, Governo do Estado, Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores e o prefeito Marquinhos Trad.
FCG – A Câmara acaba de aprovar medida que favorece a população com a manutenção da tarifa de ônibus. Para o senhor, renúncia fiscal também é investimento?
JR – Foi muito importante essa sua pergunta. Participamos ativamente das conversações, a Câmara de Vereadores, por meio de nossa pessoa, e o prefeito com o consórcio Guaicurus, e conseguimos da concessionária do serviço, não apenas a manutenção da tarifa do transporte coletivo (R$ 3,55) com a renúncia fiscal de 5, que é um ganho significativo para a população. Como contrapartida, a concessionária instalará 100 novos pontos de parada de ônibus. Onde hoje é um poste fincado, vamos ter lá 100 pontos de ônibus cobertos, com acento, e a recuperação dos banheiros, da parte elétrica, hidráulica e pintura, nos terminais, e a melhoria da acessibilidade. O que parece ser uma renúncia fiscal, na verdade é um investimento, conquistado sempre por meio do diálogo, do entendimento e da aproximação das partes.
FCG – O governador Reinaldo Azambuja pegou um estado com mais de 200 obras paradas, em meio a denúncias de farra do dinheiro público e ainda cortes de verbas federais por conta da crise. Como o senhor avalia hoje a gestão tucana em dois anos?
JR – Uma gestão de extrema responsabilidade, uma gestão que atravessa um nevoeiro, no sentimento de escândalos políticos, a maior crise da República. O governador Reinaldo sempre esteve focado na gestão, preocupado em organizar o Estado, organizar a máquina pública. Penso que essa é a forma tucana de governar, governar com responsabilidade, fazer política madura, política de estrutura administrativo-financeira. Com certeza, é mais difícil fazer esse tipo de trabalho, porque as medidas populares agradavam mais. Entendo que a população vai saber compreender o momento que o País está passando e a responsabilidade com que o governador está organizando o Estado. Os resultados vão aparecer tranquilamente no fechamento desse ciclo de seu mandato para cuidar de Mato Grosso do Sul, fazendo as entregas de tudo aquilo que se comprometeu durante a campanha. E com o Estado saneado, eu creio que a aprovação popular do governador será bastante considerável.
FCG – E o atual momento do País diante de tantas denúncias de corrupção envolvendo figuras máximas da nossa política? O Brasil sairá ileso?
JR – Penso que tudo que acontece é o amadurecimento da democracia, que é o melhor sistema político, é o Estado democrático de direito, onde os poderes precisam atuar de forma independente. Agora, só é necessário, sempre repito, a dosagem, tem que medir a dose. Até remédio, se você exagerar na dose vira veneno. Acho que tem que se apurar aquilo que está errado, mas tomar cuidado para você não atingir, de repente, pessoas, que depois de manchadas, não tem como limpar essa mancha, essa pecha. Penso que a população também está amadurecida, está mais crítica, até pelos meios de comunicação, a imprensa hoje dispõe de ferramentas, como as mídias sociais, onde existe a agilidade, a transparência. Nessa ótica, estamos buscando aqui na Câmara trabalhar no sentido de resgatar a imagem dos políticos. Somos todos escolhidos pela população, não adianta você falar, fazer discurso, tem que ser prático, e assim nós estamos atuando. A Câmara tem ido ao encontro do cidadão, temos o aplicativo da Câmara Ativa, onde o cidadão pode baixar no seu celular, tirar uma foto de um buraco, a lâmpada queimada, de um problema na escola ou num posto de saúde, e encaminhá-la para a Casa, que, em harmonia com o Executivo, buscará resolver. A resolutividade é importante, abrir esse diálogo com a população. As nossas sessões são transmitidas ao vivo, por meio do Facebook. Isso tudo é uma forma de você estar prestando contas à população e motivando o cidadão a nos procurar, a nos ajudar. Não basta apenas eleger, tem que estar participando junto conosco. O fato de estarmos indo ao encontro da sociedade, estamos buscando argumentos, ferramentas, para que possamos na Casa trabalhando entregar aquilo que esperam da gente, a confiança que nos foi depositada, em forma de trabalho, de serviços públicos chegando a comunidade, a casa do cidadão, mediante os impostos que todos nos pagamos.
FCG – Qual a avaliação que o senhor faz do governo Michel Temer? O senhor enxerga alguma reação da economia?
JR – Eu gosto muito da palavra credibilidade. Da mesma maneira que nós temos, em Campo Grande e no Estado, demonstrar credibilidade para a população, para os investidores, empresários, o Brasil passa também por essa crise de resgate de credibilidade. Penso que o presidente Temer, com sua postura, com sua fidalguia, uma pessoa extremamente litúrgica, e firme nas suas decisões, está resgatando a credibilidade do nosso País. É necessário, quando a doença é grave, o remédio muitas vezes é amargo, mas ele precisa ser ministrado. Acredito que estamos num bom caminho, mas sempre vou defender a garantia da democracia, por conta de que é isso que fará com que nós brasileiros, no futuro, possamos ter um País melhor para essas gerações que estão vindo. A responsabilidade é dos que estão agora no poder de fazer estas transformações e corrigir os rumos, que se perderam e precisamos voltar aos eixos. É isso que a população brasileira está esperando e é nossa responsabilidade enquanto políticos.
FCG – Presidente, suas considerações finais…
JR – Agradecer a oportunidade que a Folha de Campo Grande nos dá, de estar conversando com a população por meio de um veículo que tem credibilidade e penetração. É muito bacana estar conversando assim de maneira bastante informal com o cidadão campo-grandense, de forma a promover realmente esta aproximação para resgatarmos a respeitabilidade enquanto homem público, enquanto detentor de um mandato, de um poder. É importante você não só falar, mas demonstrar essa respeitabilidade mútua. Para ser respeitado, primeiro você precisa respeitar. Então, a Folha nos está dando esta oportunidade e quero agradecer mais uma vez.