Pode parecer mera coincidência. Mas não é. Há tempos que a reforma política, uma necessidade vital para qualificar e moralizar a política brasileira, vem sendo conduzida a passos de tartaruga. O “enrolation” se dava por vários motivos, sobretudo as diferenças de opinião entre os parlamentares, responsáveis pela votação da proposta e a definição das novas regras.
Ocorre que agora a reforma retorna e anda num supersônico para ser votada e implementada com a maior rapidez. A pressa, porém, já não é pelos nobres motivos que ontem dominavam a preocupação de parlamentares que tinham opiniões muito desiguais. Hoje, parece que quase todos pensam ou agem com um interesse comum, movidos por uma nova necessidade: a de blindar-se contra eventuais investidas nas operações de combate à corrupção e, ao mesmo tempo, garantir para si o controle dos partidos, o que equivale conservar o controle do processo que beneficiará seus projetos de eleição ou reeleição.
Este cenário é desenhado por um dos itens mais polêmicos da proposta de reforma que está sendo analisada no parlamento: a lista fechada. Por ela, o eleitor votaria numa lista definida pelo comando do partido.
É lógico, então, deduzir que os maiores partidos dominariam a cena e os caciques continuaram dominando os partidos, conduzindo-os de acordo com suas vontades – porque o voto dos eleitores beneficiará os candidatos privilegiados que foram indicados para a tal lista. E quem indica são os donos das legendas, os primeiros e maiores interessados em conquistar mandato, tirando do eleitor a faculdade de ter mais alternativas.
Isso está ocorrendo no momento em que a Operação Lava Jato e os tribunais apertam o cerco aos corruptos de todos os matizes. O eleitor já anda descrente dos políticos e agora surge esse artifício para mascarar interesses não revelados, como se o povo fosse otário.
O blogueiro Cláudio Nunes analisou nos detalhes o que representaria essa lista, sopesando seus resultados. E concluiu: “É uma verdadeira aberração e excrescência se o Congresso aprovar essa manobra. É preciso que os homens de bem digam não a lista fechada. Se aprovada é melhor instituir o parlamento biônico escolhido pelos presidentes de partidos que não tem o voto do eleitorado”.
Lista fechada é igual à democracia amarrada, criminoso impune e eleitor desrespeitado. Mais uma vez.
GERALDO SILVA