A prisão do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e de sua esposa, Adriana Ancelmo, trouxe à tona um dos maiores escândalos de corrupção pública já protagonizados por governantes estaduais. Cálculos das investigações ainda não atualizados informam que até agora já foram contabilizados cerca de R$ 225 milhões de verbas públicas drenadas no propinoduto carioca por meio de licitações marcadas, fraudes e outras formas de desvio. Porém, à medida que as investigações avançam, acredita-se que essa conta aumente.
Na segunda-feira passada, com um mandado de prisão em seu nome, a ex-primeira-dama, a advogada e empresária Adriana Ancelmo, entregou-se à 7ª Vara Federal do Rio. O mandado foi expedido pelo juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Operação Lava Jato no Estado. A Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão no apartamento de Adriana e Cabral. Ela, o marido e outras 11 pessoas também viraram réus na Operação Calicute, um desmembramento da Lava Jato deflagrado em novembro.
Depois do exame de corpo de delito, Adriana foi para o presídio feminino Joaquim Teixeira, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu. Cabral está na cadeia Pedrolino Werling de Oliveira, a Bangu 8, no mesmo complexo. O esquema do grupo faturava fortunas em contratos públicos do Estado do Rio com empreiteiras como Andrade Gutierrez, Carioca Engenharia e Delta, cujos executivos delataram o esquema.
RIQUEZA
Adriana – apelidada de Riqueza pelo marido – era sócia de um escritório, o Coelho & Ancelmo Advogados Associados, que encaminhava e esquentava o dinheiro desviado em operações facilitadas pelo poder político e administrativo de Cabral. Em 2013, concessionárias de serviços públicos contrataram o escritório da mulher do governador, como é o caso do Metrô Rio, que repassou R$ 1,9 milhão; da CEG, que desembolsou R$ 865 653; da Oi/Telemar, que pagou R$ 10,5 milhões; e da Light, que fez pagamentos de R$ 3,5 milhões. Com isso, a receita do escritório de Adriana chegou a R$ 73,1 milhões, um salto de 457% entre o início e o fim das duas gestões do peemedebista, entre 2007 e 2014. O casal nadava em dinheiro e não se importava em ostentar bens caríssimos, como uma lancha de quase R$ 5 milhões e jóias de altíssimo valor. Boa parte desse patrimônio está em nome de terceiros.
PENTE-FINO
Do jeito que estão as coisas, com as delações premiadas e o rigor nas investigações, ninguém no Brasil pode se dizer acima de qualquer suspeita, de mamando a caducando, de padre a pecador. Eis o caso de um agente público que deveria ser insuspeito: o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Vital do Rêgo Filho, caiu nas malhas finas da Operação Lava Jato. Ele e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT), são suspeitos de terem negociado propinas com empreiteiros que estavam na mira da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras, instalada no Congresso em maio de 2014.
Naquela época, Vital era o presidente da CPMI e Maia era o relator, responsável por elaborar um relatório final sobre os trabalhos dos parlamentares. A Procuradoria-Geral da República obteve mandado de busca e apreensão nos endereços de ambos para “coletar elementos probatórios comprobatórios da obstrução dos trabalhos da CPMI da Petrobras, mediante favorecimento de empresários que deixariam de ser convocados a depor”. Ao todo, foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão em Brasília (DF), Canoas (RS), Porto Alegre (RS), Campina Grande (PB) e João Pessoa (PB).
Segundo investigadores da Lava Jato, há indícios de que Vital pediu a empreiteiros R$ 5 milhões para a sua campanha ao governo da Paraíba. A metade desse valor foi doada pela construtora OAS ao PMDB nacional, partido ao qual o ministro do TCU é filiado. A outra parte foi repassada por meio de caixa dois, numa transferência da empreiteira à Construtora Planíce, que também é alvo de busca e apreensão. Maia é suspeito de ter recebido, em espécie, R$ 200 mil de propina. O dinheiro teria sido entregue por Júlio Camargo a um operador do ex-presidente da Câmara.