A história registra dois acontecimentos que dizem bem de perto às nossas emoções, os sentimentos cívicos para nós que nascemos ou optamos por viver neste solo bendito de Mato Grosso do Sul: o sesquicentenário da Retirada da Laguna e o bicentenário de nascimento do mais expressivo de seus heróis, o ten. cel. Pedro José Rufino. É a razão das celebrações que se iniciam, sob os auspícios do Comando Militar do Oeste e o prestígio da Fundação de Cultura do Estado, do Instituto Histórico e Geográfico, da Universidade Federal, UFMS, da Universidade Estadual, UEMS e do jornal O Correio do Estado.
É sempre oportuno lembrar, e ela vem da verve do intelectual, jornalista, o ex-deputado federal Rosário Congro Neto, que em recente pronunciamento perante o Instituto Histórico e Geográfico, destacou: “É preciso ter consciência de que se impõe sempre, e no futuro mais ainda, saber porquê, como e onde se deram os fatos, e quais foram os personagens que nele se envolveram para que a memória de um povo não se perca no vazio, que pode transformá-lo num povo sem alma.”
Daí o sentido das homenagens àqueles que nos legaram lições imperecíveis de civismo, lições infelizmente olvidadas neste momento em que a cobiça, a ganância, a falta de ética provoca a desesperança em homens públicos que possam levar o Brasil a dias melhores. Justo, merecido render homenagens a aqueles que no passado, já longínquo mas não embaçado pela poeira do tempo, molharam o nosso solo sagrado com seu suor e sangue pelos postulados genuínos de amor à pátria e a integridade dos bons costumes.
Muitas linhas escritas em documentos ou gravadas em bronze por sí históricos, mercê o incentivo do Exército Brasileiro para significar o destemido militar que foi o Cel. Pedro José Rufino. Mereceu ele os primeiros registros no fragor da contenda bélica na lembrança da pena rutilante do visconde de Taunay, isto nos relatos contidos e compilados pelo seu filho Afonso E. De Taunay “Em Mato Grosso Invadido – 1866 – 1867”, onde os atos de coragem heroica ressaltam preponderante presença militar de Pedro Rufino ao segurar a retaguarda da Coluna comandada pelo Cel. Camisão, esta já extenuada pela febre da cólera quando da legendária Retirada da Laguna.
Inteligência, liderança, lealdade, disciplina, dedicação, são apenas alguns elogios que se pode conferir à Pedro Rufino. Sua vida foi um fanal para todas as gerações que se seguiram aos anos já sesquicentenários daquele conflito que não glorifica a história da Sul América. Se nossas lideranças tivessem imitado àqueles como Pedro José Rufino em relação ao amor à Pátria, não estaríamos nesta situação constrangedora de crise política econômica e social que estiola as nossas esperanças.
Naquela triste conflagração que prefiro considerar a Guerra da Tríplice Aliança, na qual o Brasil entrou, diria como “pilatos no credo”, eis que pouquíssimo interesse tinha na rixa entre os vizinhos hispânicos, Argentina, Uruguai e Paraguai pelo uso do “mar del plata”,e foi o que mais se destacou em perdas de vidas, recursos materiais e financeiros. No século XIX, tudo era precário, mais valia era o destemor dos que iam à luta de vida ou morte, além dos horrores sanguinolentos de uma luta combatida a pé, as vezes sobre o lombo de cavalos, pelas planícies sem fim, ora pantanosas, ao longo dos rios da Bacia do Prata, cujas águas refertas de tranqueiras embaraçadoras tinham os combatentes ainda a enfrentar doenças endêmicas como a maleita e a cólera num ambiente hostil como foi aquele vivido pelos nossos guerreiros da Retirada da Laguna.
Confesso genuflexo, como meus primos todos descendentes em cujas veias corre o sangue heroico do Te. Cel. Pedro José Rufino, a honra de nossa origem.
RUBEN FIGUEIRÓ, ex-senador