Ex-presidente da Águas assume concessionária do caótico serviço de transporte coletivo da Capital
Chamado até de “estranho no ninho” por lideranças políticas, o novo CEO do Consórcio Guaicurus, Themis de Oliveira, não esperou esquentar a poltrona para fazer o que seus antecessores faziam: choramingar prejuízos para cobrar aumentos nas tarifas do transporte coletivo de Campo Grande. Geólogo, com especialização em finanças corporativas, a presença de Oliveira neste posto causa estranheza porque seu currículo revela possuir 40 anos de lides profissionais, 36 dos quais nas áreas de infraestrutura e saneamento e nenhum no ramo de políticas públicas de transporte coletivo.
Na primeira coletiva após tomar posse da presidência, Oliveira já procurou emparedar a prefeita Adriane Lopes (PP), mesmo ciente que a população conhece este antigo e vergonhoso “jogo de empurra” para adiar soluções anunciadas e nunca efetivadas. Ele disse estar esperando que a prefeitura cumpra uma das cláusulas do contrato de concessão que prevê o reajuste anual da tarifa.
No entanto, os campo-grandenses, em especial os usuários, sabem que para a concessão de reajuste é obrigação das empresas a prestação de serviços qualificados e com a aprovação dos passageiros. Além disso, as planilhas trabalhadas pelo consórcio contêm somente contas que interessam aos empresários. Outro detalhe: em Campo Grande, o governo do Estado tem subsidiado o transporte coletivo, com repasses milionários que poupam prefeitura e consórcio de uma expressiva parcela do custeio.
Mais preocupante ainda foi Oliveira revelar que se tornou CEO (uma sigla em inglês para Chief Executive Officer, que em português significa Diretor Executivo ou Presidente Executivo) sem sequer ter os conhecimentos básicos da situação contratual e financeira da empresa e das relações com a prefeitura. Foi sincero, afirmando estar ainda se inteirando sobre o assunto.
Ele citou somente que as normas estabelecidas no contrato de concessão, assinado em outubro de 2012 já foram cumpridas. E assim, a seu ver, só falta ser decretado o reajuste. Não é segredo para ninguém que a exploração do transporte coletivo é um negócio altamente lucrativo. Trata-se de um serviço sob concessão pública, controlado por um monopólio de empresas privadas, o Consórcio Guaicurus.
Diante disso, ao exigir o reajuste contratual para “repor prejuízos” ou “ampliar a margem de lucro”, o novo CEO deveria também abordar outras cláusulas do contrato, aquelas que definem as condições para um sistema de qualidade. São itens que continuam ignorados, entre os quais, como a renovação regular da frota, cobertura nos pontos de ônibus (ainda em número insuficiente), ar condicionado e sistemas de acessibilidade em todos os veículos, terminais modernos e manutenção sistemática. O último reajuste, em março de 2024, foi determinado judicialmente, passando de R$ 4,65 para R$ 4,75.