Ensinam os dicionários que a palavra enfado traduz sentimentos associados à rotina, ao enjoo e, dependendo das circunstâncias, chega à indignação. Mas é um erro tratar o citado vocábulo como se fosse apenas uma expressão vinculada a sensações negativas ou de inconformismo. O enfado, que nas situações adversas é recebido com mau-humor e feições pertinentes, também pode ser transferido para um contexto bem oposto, de satisfação, regozijo, prazer.
Um exemplo concreto desta novidade – que pode ser considerada um enfado prazeroso – está diante dos olhos de quem queira ver, aqui em Mato Grosso do Sul, a recepção geral a uma notícia que se repete nos finais de ano, consecutivamente, desde 2015. Trata-se da manutenção do calendário de pagamentos das folhas de final de ano do funcionalismo público.
Ao todo, o governo estadual tem que pagar o 13º salário de 86,5 mil homens e mulheres que estão trabalhando ou já trabalharam para o serviço público de Mato Grosso do Sul. São 54 mil servidores da ativa e 32,5 mil inativos e aposentados. E o que acentua a diferença deste tratamento dado pelo governo a seus colaboradores é o excepcional crescimento no volume de negócios e circulação de dinheiro, um aquecimento dos mais amplos e vigorosos da economia.
O universo de benefícios e beneficiários é gigantesco. Basta fazer contas leigas, mas realistas, somando o poder e a execução de consumo de 86,5 mil servidores e respectivos familiares, realizando suas aquisições em milhares e milhares de atividades comerciais. E acresça-se um item que dá maior dimensão ao ato governamental: além do 13º salário, nos últimos 60 dias do ano o Tesouro Estadual paga também os meses de novembro e dezembro.
Ora, juntando os três repasses da folha, com cada repasse calculado em mais de R$ 400 milhões, a injeção de dinheiro na economia passará de R$ 1,4 bilhão. A reforma da casa, a troca de um carro ou uma bicicleta, a renovação do guarda-roupa, o pagamento das dívidas, as aquisições do material escolar, a viagem para visitar parentes, a substituição de móveis antigos, o casamento e até os cuidados com a saúde constam das variadas pautas de necessidades atendidas pelo reforço no caixa doméstico.
Mato Grosso do Sul está no meio geográfico e continental que vive momentos angustiantes de crises diferentes, da financeira à climática. O Estado, portanto, não é um mar de rosas. Mas está bem, distante do abismo em que já foi atirado. Hoje, a rotina é outra e os humores também. As rosas podem ser plantadas agora, porque existe a certeza de que vão florescer.