Desde que venceu as eleições presidenciais, o republicano tem tomado medidas para implementar deportações em massa de migrantes, a quem acusa de ‘envenenar o sangue’ e ‘infectar’ o país
À rede americana CNN, fontes com conhecimento do assunto afirmaram que os planos da nova administração sobre o assunto já começaram a se delinear — e devem incluir a implementação de medidas rígidas na fronteira, a revogação de políticas de Biden e o início da detenção e deportação em larga escala de migrantes. Pessoas próximas a Trump e seus assessores estão preparando a expansão de instalações de detenção para cumprir a promessa de campanha do republicano.
A Guarda Nacional é uma força militar sob o comando do governador de cada estado e pode ser convocada para a proteção do país em casos de conflito ou desastre. Em abril, Trump declarou que essa força “deveria ser capaz” de realizar as expulsões de migrantes em situação irregular. À revista Time, o presidente eleito disse que, se a Guarda Nacional não for capaz, ele usará “o Exército”, em referência às tropas federais do país.
Desde sua vitória contundente nas eleições presidenciais, no início deste mês, o republicano de 78 anos tem tomado medidas para implementar deportações em massa de migrantes, a quem acusa de envenenar “o sangue” dos Estados Unidos, “infectar” o país e comer animais de estimação. Ele também distorce os dados sobre o assunto ao classificar os migrantes como “assassinos” e, mais extremista, de “selvagens”. Durante a campanha pela reeleição, Trump prometeu iniciar as deportações em massa assim que assumir o cargo.
— No primeiro dia, lançarei o maior programa de deportação da História americana para tirar os criminosos do nosso país. Vou resgatar cada cidade e vila que foi invadida e conquistada, colocaremos esses criminosos brutais e sanguinários na cadeia e depois os expulsaremos do nosso país o mais rápido possível — disse ele durante um comício no Madison Square Garden nos últimos dias da campanha presidencial.
Para cumprir a promessa, Trump já nomeou vários defensores de uma política migratória rígida para cargos importantes em seu gabinete, com o ex-diretor interino da Imigração e Fiscalização Aduaneira dos EUA (ICE), Tom Homan, sendo nomeado a “czar da fronteira”. Ele não especificou em que consistirá o trabalho de Homan, mas o título do cargo é autoexplicativo. Homan é conhecido por sua posição linha-dura em relação à imigração. Entre 2017 e 2018, ele supervisionou uma política que resultou na separação de 4 mil crianças migrantes de seus pais.
O presidente eleito reforçou essa nomeação com outros dois nomes de perfil rígido: a governadora da Dakota do Sul Kristi Noem à frente do Departamento de Segurança Interna, responsável pela proteção das fronteiras, alfândega e gestão da imigração, e o deputado Mike Waltz como conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca.
Apesar das declarações de Trump, não há dados públicos disponíveis sobre quantos migrantes nos EUA passaram algum tempo na prisão, mas há informações sobre quantos têm condenações criminais. Dos 1,5 milhão que cruzaram a fronteira ilegalmente até setembro, 15.608 foram de pessoas com histórico criminal. A condenação mais comum foi por entrada ilegal em outro país (9.545), seguida por dirigir sob influência de substâncias (2.577) e delitos de posse e tráfico de drogas (1.414).
Na campanha eleitoral, Trump também afirmou que “13 mil assassinos condenados” haviam entrado nos EUA durante o governo de Joe Biden, indicando que eles estariam “circulando livremente” no país. Segundo análise da equipe Verify, da BBC, ambas as falas são enganosas. A primeira delas porque a afirmação do republicano foi baseada em dados que abrangem um período de 40 anos, incluindo todas as administrações presidenciais desde pelo menos Ronald Reagan (1981-1989). E a segunda, de acordo com o Departamento de Segurança Interna americano, porque os dados foram “interpretados incorretamente”. Muitos dos migrantes que Trump alegou “circularem” pelo país, disse o órgão, estão “sob custódia ou atualmente encarcerados”.
Organizações de defesa dos direitos humanos estão preocupadas com o destino dos mais de 11 milhões de migrantes em situação irregular nos EUA. Muitos economistas também alertaram que uma deportação em massa teria um custo exorbitante e causaria um impacto devastador na economia americana, que já enfrenta escassez de mão de obra.