Se alguém quiser decifrar qual deve ser o principal motivo que faz a direita brasileira mais feliz depois de proclamados os resultados da recente eleição municipal, não precisa fazer complexos exercício de avaliação. Mas também não se deve crer que a direita esteja 100% feliz. Apesar do triunfo na polarização ideológica, os conservadores ainda não acharam a chave-mestra da sua unidade.
De qualquer forma, o apito final que decretou o fechamento de urnas e a proclamação dos resultados soou e caiu como uma bordoada, violenta e das mais doloridas, nos ombros do PT e seus aliados tradicionais na seara filosófica, como o PCdoB, o PSB, o Psol e, em menor escala, o PDT e o PV. Assim, a direita gargalha porque viu o PT puxar a fila dos derrotados de seu campo, caindo de posição no ranking da representatividade.
Mas que os analistas prestem atenção: embora experimentando uma necessidade premente de reinventar-se e encontrar um discurso – ou uma prática eficiente – para repatriar-se no âmbito dos movimentos sociais e atrair a classe média, o PT não está morto. Agora, a legenda foi vencedora em 252 municípios, 38% a mais que em 2020, porém a léguas de distância de 2012, quando saiu das urnas com a hegemonia em 524 prefeituras.
O problema agora é que o Centrão e as duas direitas (a bolsonarista e a não-bolsonarista) só precisam se unir para ficarem com a faca e o queijo nas mãos. E com um detalhe: sem precisar de Jair Bolsonaro; O PL do ex-presidente elegeu 517 prefeitos (166 a mais que em 2020) e comandará quatro capitais. Contudo, o desempenho é bem inferior às mil prefeituras que a direção partidária vaticinava.
Enquanto o PT carece de lideranças efetivamente nacionais e ficou ainda mais dependente de Lula, a direita esnoba com outras alternativas que tiram de Bolsonaro o exclusivismo da liderança. Aí estão, entre outros, os governadores vitoriosos Ronaldo Caiado (Goiás), Tarcísio Freitas (São Paulo) e até o tal do Ratinho Jr (Paraná). Por fora, corre o tresloucado, mas midiático, Pablo Marçal.
Enquanto PT e Companhia se sacodem em busca das receitas que a vovó preparava contra mau olhado, a direita exulta. Entre os cinco partidos que conquistaram o maior número de prefeituras, dois são de direita (PL e PP), dois de centro-direita (PSD e União Brasil) e um de centro (MDB). O PT é o nono neste ranking – e só voltará ao “top 5” se conseguir uma forte reinvenção e deixar de ser refém da lulodependência.