Vida pública não é vida privada. Vida pública impõe a cada pessoa cuidados indispensáveis para que os direitos coletivos não prejudiquem os direitos individuais. E uma das piores formas de causar tais prejuízos é o uso da mentira e suas práticas análogas: a infâmia, a calúnia, a difamação e outros disparos inescrupulosos que causam estragos morais, emocionais e até físicos, afetando a saúde e a qualidade de vida das vítimas.
São vítimas, sim, todos os seres políticos que sofrem com projéteis disparados pelas armas cerebrais e criminosas de gente que troca o debate e o confronto das ideias pela lei da terra sem lei. E neste podre território só os podres caminham, porque é nele que têm a liberdade de plantar, semear e abastar-se de mentiras, hoje adubadas pelas fábricas de notícias falsas, as famigeradas fake news, como se constatou agora, nas eleições em Campo Grande.
Uma investigação séria, isenta e responsável, feita exclusivamente como cumprimento de uma atribuição institucional, conduziu o Tribunal Regional Eleitoral e a polícia a um valhacouto criado para disseminar mentiras e ataques teatralizados com duas finalidades: desqualificar ou desmoralizar determinadas candidaturas e também provocar uma alteração na dinâmica das pesquisas de intenção de voto.
Não é preciso entrar em detalhes para inferir que o grande alvo de tais maquinações seria Beto Pereira (PSDB), o candidato que mais cresceu nas pesquisas e hoje é favorito para chegar ao segundo turno. Trata-se de uma condição que, seguramente, desagrada quem vê ficar mais distante o caminho para avançar ao segundo turno. Mais distante ou até improvável, diante das flutuações indicadas pelas amostragens.
O jogo eleitoral, que dá saúde à democracia, poderia restringir-se ao desafio entre programas, ideias e currículos, ainda que sob argumentações apimentadas, duras, ácidas, porém respeitosas e alinhadas nos limites mais saudáveis da disputa democrática. Infelizmente, esta realidade acabou sendo maculada pela ação criminosa dos difamadores profissionais – e, certamente, muito bem pagos.
Felizmente, o golpe de bandidos não prosperou. A mão certeira da Justiça os alcançou. E isto é providencial para uma população que vive sob a inquietante incerteza em relação à impunidade. Quem pode dizer com a convicção definitiva que o crime não compensa ou que a impunidade não terá vez desta feita?
Prefiro apostar que sim, que acredito ser possível barrar com firmeza tanto o crime como a impunidade dos criminosos. O TRE e as forças de segurança acabam de demonstrar que em Mato Grosso do Sul as coisas são diferentes. E no arrastão desta vassoura saneadora não vai sobrar modelo de beleza, sósia de cinema nem hacker foragido. Cadeia pra eles. Ah, e é óbvio, não faltará lugar para financiadores e beneficiários da ópera bufa.
Democracia também é garantir o sol quadrado para quem não gosta de tê-lo e vê-lo redondo.