Nestas eleições, em Campo Grande não são apenas os candidatos que falam e desfalam, bordam e pintam. Vias públicas, muros de bairros e até as paredes menos suspeitas tagarelam, às vezes contando segredos, outras vezes dando publicidade a frustrações e insatisfações.
São vozes teoricamente inaudíveis. Teoricamente. Porque na prática elas não precisam de som para reverberar a indignação de um povo que faz sua obrigação religiosamente e não vê igual contrapartida no mandato dos que elegeu. As ruas e as paredes da cidade são transparentes. Revelam que o coração, a alma, a consciência e a paciência dos cidadãos e cidadãs estão muito machucados.
A razão desta situação humilhante está à vista e foi assim definida por um servidor público revoltado com a existência de uma folha secreta para garantir transações obscuras com verba pública. Obscuridão é falta de claridade, de luz, de transparência. É coisa escondida. No caso desta urbe, é muita coisa escondida, tendo em vista a invenção da tal folha secreta.
Já que a palavra “obscura” está explicada, vale citar outras duas que a ela se associa. Uma é “desmazelo”. Os bons dicionários definem assim seu significado: “Qualidade ou caráter do que ou de quem é desmazelado; relaxamento, negligência, descuido, desmazelamento”.
A outra parente de obscuridão é “inépcia”. O dicionário nos socorre novamente e esclarece a quem não sabe: inépcia é um termo que pode ter vários significados, entre eles a falta de habilidade ou aptidão, a falta de inteligência ou imbecilidade, ato absurdo ou tolice.
Evidentemente, será agressivo, deselegante e calunioso chamar alguém, político ou não, de imbecil. Quem o faz, veste a depreciação que lançou em outrem. No entanto, basta um olhar sincero e revelador para a cidade e as coisas de sua gestão (ou falta dela) para inferir que se trata de um mandato de desmazelo, de inépcia, de obscuridade.
O acúmulo de desvirtuamento das lógicas mais simples e a falta quase absoluta de respeito ao próprio mandato colocam a gestora da cidade e seus aliados, especialmente a maioria dos vereadores, no centro daqueles adjetivos traduzidos pelos dicionários. Nada de ofensivo. Tudo de verdade.
Quem não acredita, que ouça Chitãozinho & Xororó. “Falando às Paredes” é a canção ideal para quem não ouve a voz das ruas e caminha em direção às urnas achando que paredes não escutam e avenidas são surdas.