“A cada ano se vai perdendo a cobertura vegetal, seja em função dos desmatamentos ou das queimadas. Prejudica todas as bacias e assim, até o final do século nós poderemos perder a maior planície alagada do planeta”.
Esta frase ilustrou amargamente a semana brasileira. Foi pronunciada pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em uma audiência na Comissão do Meio Ambiente no Senado. Ela falava sobre os incêndios florestais no Brasil e utilizou esta advertência quando referia-se ao que está ocorrendo no Pantanal.
A ministra não foi dramática, nem apelativa, muito menos apoiava-se numa visão política ou ideológica do problema. Ela se escorava na Ciência, nos estudos científicos e nas conclusões de pesquisadores gabaritados, gente que ao longo das décadas acompanha e investiga as causas e consequências dos incêndios, ou seja, o fogo proposital, e de outras formas de destruição dos ecossistemas.
Os incêndios no Pantanal são devastadores. Houve um aumento de mais de 1.000% no número de focos em relação aos anos anteriores. Em junho de 2024, a área queimada era 54% maior do que no mesmo período de 2020, até então o pior ano de queimadas no bioma. No primeiro semestre de 2024, o Pantanal registrou o maior número de focos 1998; Em julho passado, o bioma já tinha perdido para as chamas mais de 800 mil hectares, o que equivale a 2.362% mais do que no mesmo período de 2023.
E a destruição continua, basicamente perpetrada por mãos humanas – na verdade, mãos desumanas, guiadas por uma ambição desmedida, para fazer do ecossistema um quintal de negócios. A mata é apenas e tão somente a mata, um empecilho removível. Basta “abrir a porteira” e deixar tudo por conta do homem do isqueiro e do palito de fósforos que o “progresso” vai passar.
O fogo não é o grande inimigo do Pantanal e das florestas. Desde os tempos remotos, nossos ancestrais aprenderam a utilizá-lo como recurso de manejo e o faziam na inteligência instintiva de uma era sem Internet, sem drones, sem faculdades. Atualmente, as fontes do conhecimento evoluem em proporção semelhante à evolução da tecnologia científica, aquela mesma que alguns tentam rebaixar.
Há uma diferença enorme entre a queimada de manejo e o incêndio florestal, portanto. Aquela, é a do fogo controlado, necessário, coisa que o pantaneiro consciente faz muito bem, há séculos. Esta, a do incêndio, é fogo criminoso, cujos autores precisam ser identificados, apanhados e levados para bater enxada nos presídios.
Os apocalípticos de isqueiros e palitos de fósforos a serviço da morte não acreditam na Ciência. Põem a vida no balcão de seus negócios e fazem da destruição do meio ambiente uma necessidade estratégica para a saúde de suas commodities e a abastança de suas gulodices patrimoniais. Se porventura não forem contidos, os descendentes da comodidade só terão livros e museus de animais empalhados para saberem o que era uma onça, uma vitória régia ou um carcará – aquele que pega, mata e come, mas está sendo condenado a morrer de fome.