O ínclito deputado federal Luiz Ovando, do PP, é médico e legislador. E como legislador, sabia ou deveria saber que não poderia disputar – ou ao menos anunciar que disputaria – qualquer cargo eletivo enquanto estivesse apresentando programa de rádio ou TV. A lei eleitoral proíbe e até define prazo para que os interessados saiam do ar, para que não seja quebrada a necessária e democrática igualdade entre os candidatos.
No entanto, o legislador aceitou o convite da prefeita Adriane Lopes e assumiu a candidatura a vice-prefeito, passando pelo vexame de ser obrigado a retirá-la, logo que se constatou a presumível ilegalidade. Porém, não é sua toda a culpa. Ou a prefeita e suas assessorias jurídica e política também não sabiam que para fazer o convite o legislador precisava estar legalmente apto a tal investidura?
Poderia ser uma coisica de nada. Poderia ser um simples e perdoável deslize. Poderia ser uma das falhas a que os humanos estão todos sujeitos.
Poderia. Mas não pode. Há situações que impõem acertos, precisão e, sobretudo, zelo pela própria responsabilidade. Porque há decisões que criam consequências impossíveis de corrigir. Há, muitas vezes, prejuízos sem volta e dados irreparáveis por causa de decisões erradas.
Quem conhece a história dos dois irmãos Naves, de Araguari (MG), sabe desta verdade. Ficaram presos por oito anos e três meses por um crime que não cometeram. Foi um dos maiores erros judiciais na história do País. Um deles adoeceu gravemente e morreu, depois dos oito anos de vida que perdeu, trancado numa cela.
Não há como compensar, pagar ou cobrir dano semelhante. A família Naves recebeu indenização milionária do Estado – mas o dinheiro não iria ressuscitar o filho morto, tampouco recuperar para ambos os oito anos de vida que perderam.
Assim é na vida pública. No Judiciário, no Legislativo, no Executivo as decisões impactam diretamente na vida de todas as pessoas. Não se pode errar, em hipótese alguma, quando se vai decidir, por exemplo, sobre a culpa ou a inocência de um réu. Se o julgador erra, é ele quem deveria estar no banco do réu. A mesma coisa acontece com uma cidade submetida a gente que não sabe decidir ou toma as piores decisões.
Por estas e outras pequenas pisadas em falso é que se quebra a perna de um projeto ou de uma gestão. A candidatura de Luiz Ovando a vice foi prejudicada não por má fé, mas por incompetência, por cegueira jurídica e política, por falta de intimidade com a inteligência. E é assim que ocorre com Campo Grande sob os ventos errantes de quem a governa.