Quatro anos após deixar prisão, Marcel Martins Silva acumulou patrimônio de R$ 45 milhões
Um empresário de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, foi preso em junho de 2022 acusado de ser o chefe de um esquema internacional de tráfico de cocaína e lavagem de dinheiro. Segundo as investigações, ele chegou a pagar dízimos mensais de até R$ 86 mil para a igreja evangélica que frequentava com a esposa, Evelyn Zobiole Marinelli Martins.
Os valores dos dízimos eram tão altos que chamaram a atenção da Polícia Federal, que já investigava o empresário por crimes financeiros. De acordo com os investigadores, os pagamentos eram feitos em dinheiro e sempre em valores redondos. Em alguns meses, o empresário chegou a doar mais de R$ 100 mil para a igreja.
Para justificar os altos valores dos dízimos, o empresário apresentava à igreja anotações manuscritas com a somatória de seus rendimentos mensais. No entanto, a Polícia Federal acredita que esses valores eram fictícios e serviam apenas para mascarar a origem do dinheiro ilícito.
O caso gerou grande repercussão na cidade e levantou questionamentos sobre o papel das igrejas na recepção de doações de origem duvidosa. Algumas pessoas defendem que as instituições religiosas devem ter mais cuidado ao receber doações de grandes quantias, enquanto outras argumentam que cabe à Justiça investigar a origem do dinheiro.
Milionário
Comandando a organização que trazia cocaína da Bolívia e do Peru e enviava para grandes centros brasileiros e para o exterior, Marcel Martins Silva ficou milionário em período de quatro anos. Segundo a PF, ele chefiava o esquema junto com o irmão, Valter Ulisses Martins Silva, 27, que está foragido.
Marcel foi condenado por tráfico de drogas no Paraná e cumpriu pena de 2017 a 2020. Depois que saiu da cadeia, passou a investir em empresas quase à beira da falência em Dourados, uma delas a Primeira Linha Acabamentos.
Segundo a Polícia Federal, os irmãos Martins injetaram dinheiro do tráfico na empresa e se tornaram os verdadeiros donos do negócio. O fundador da loja e oficialmente sócio de Marcel, Carlos José Alencar Rodrigues, o “Carlinhos”, também foi preso na operação.
“Embora alguns bens estejam com valores menores (acredita-se que Marcel colocou apenas o que já foi pago) e outros não possuam valores, é possível ver que a somatória de parte de patrimônio de Marcel totaliza R$ 45.381.000,00 (quarenta e cinco milhões e trezentos e oitenta e um mil reais). Tal somatória em tão pouco tempo não condiz com as atividades lícitas de Marcel, uma vez que esteve preso de 2017 a 2020 e, na ocasião, teve todos os seus bens sequestrados”, afirma trecho do relatório da investigação.
Segundo a PF, os irmãos Martins são de fato os proprietários da Primeira Linha Acabamentos, da Paris Construtora, Israel Construtora, Efraim Construtora, Transfort e Agrocanaã S/A (empresa instalada em território paraguaio).
“Os irmãos Martins possuem uma vasta rede de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio composta por suas empresas e funcionários”, cita a Polícia Federal, que identificou 46 imóveis de Marcel e Valter em território brasileiro e no Paraguai.
Segundo investigadores da Operação Prime, os irmãos Martins possuem ligação com Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, conhecido como “Motinha” e “Dom”. Também com prisão decretada na mesma operação, “Motinha” segue foragido. Foi a terceira vez em menos de dois anos que ele escapa da PF.
Detalhes do caso:
- Nome do empresário: Marcel Martins Silva
- Idade: 35 anos
- Cidade: Campo Grande, Mato Grosso do Sul
- Acusação: Tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro
- Valor do dízimo mensal: Até R$ 86 mil
- Igreja: Não divulgada