Manoel João prometeu não usar a profissão e os cargos para fazer política, mas não resistiu à picada da mosca azul
No dia 18 de outubro de 2017, o gastroenterologista e intensivista, Manoel João Costa Oliveira, tomou posse na presidência da Associação Medica Corumbaense. No discurso de posse, e prestando o juramento de Hipócrates, afirmou que não estava assumindo a direção da entidade para fazer política ou ser usado para tais fins. Garantiu que honraria a palavra e cumpriria o compromisso inscrito no slogan de sua chapa, “Valorize a Medicina”, seria fiel ao propósito de trabalhar para salvar vidas e não iria permitir que o usassem para fazer política.
Naquele dia, diante de familiares, colegas e autoridades, incisivo, ele repetiu enfaticamente o compromisso. “Garanto desde já que ninguém vai me usar politicamente. Prometo a vocês trabalhar pela classe e não vamos aceitar imposições que vão tolher as nossas condições de pais de família. Aqui, a última palavra e a minha. “Não vou fazer política”. Isto aconteceu a apenas seis anos e meio. Hoje, um outro Manoel João aparece. É o mesmo que presidiu a Associação Médica e chefiou o CTI (Centro de Tratamento Intensivo) de Corumbá por mais de quatro anos. A diferença é que aquele Manoel de 2017 tinha dado a palavra, prometendo não fazer política.
No início desta semana, as redes sociais deram espaço a imagens de três autoridades esbanjando sorrisos e felicidade com um fato relacionado às eleições locais. Nas fotos estão o prefeito Marcelo Iunes (PSDB), o ex-secretário de Governo e seu candidato, José Antonio Pardal, e ele, Manoel João, o médico, cuja alegria explicitava a satisfação de estar sendo, nesse momento, a figura central da notícia: era anunciado como candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Pardal.
OS MOTIVOS
A população deve estar intrigada com a decisão de um médico que é bastante conhecido na região e havia prometido não usar a profissão e os cargos a ela pertinentes para fazer o que está faz agora, desembarcando festivamente no palco da política e das disputas eleitorais. Ao empenhar sua palavra, ele criava naquela ocasião, em outubro de 2017, que seguiria o juramento hipocrático de colocar a Medicina acima de tudo e sua própria escolha de não ingressar na vida pública em busca de cargos.
Há quem afirme que Manoel João esteja movido pela necessidade de retribuir o apoio que sempre recebeu de Iunes, e esta é uma hora decisiva, diante das dificuldades que o prefeito vem encontrando para fazer o seu sucessor. Alijado do PSDB por causa de sua caótica gestão e das atitudes de insubordinação aos dirigentes, Iunes não emplacou a candidatura de Pardal entre os tucanos e o despejou no PP.
Entretanto, não está fora das motivações de Manoel João a questão financeira. Sem tantas responsabilidades no exercício de um cargo quase decorativo, fica livre para continuar ganhando com sua profissão original e ainda recebendo uma generosa remuneração dos cofres públicos. Pela Lei Municipal Nº 2.887, de 21 de julho de 2023, o salário do vice-prefeito de Corumbá a partir de 1º de janeiro de 2025 será de R$ 30 mil, com direito a 13º e a um terço de férias. Isto sem contar o status que garante lugares privilegiados em celebrações e eventos midiáticos.
GRATIDÃO
Em seu Instagram, Marcelo Iunes saudou Manoel João com palavras afetuosas e sintomáticas. “Fazendo uma analogia com o futebol, um grande time se constrói com planejamento, tática, treino, mas aprendemos desde cedo que os jogadores podem fazer toda a diferença dentro de campo”, enfatizou.
Em seguida, acrescentou: “Reforçar a qualidade do time é um pressuposto para alcançar grandes vitórias. É com muita alegria que recebemos em nosso elenco para a disputa que se avizinha o amigo e grande médico de Corumbá Manoel João. Figura de grande valor que certamente agregara ao projeto de construirmos uma Corumbá cada vez mais desenvolvida e com cuidado necessário à nossa população”.
Confira o que a imprensa corumbaense divulgou sobre a posse e o discurso do médico Manoel João ao assumir a Associação Médica: