Com falta de residências e preços exorbitantes, recém empossados nos cargos se beneficiam do sistema público
A euforia do “boom” econômico em Ribas do Rio Pardo, impulsionado pela fábrica de celulose da Suzano, tem um lado obscuro: a explosão nos preços dos aluguéis. Para escapar dos custos exorbitantes, novos servidores públicos do Hospital Municipal Doutor José Maria Marques Domingues estão recorrendo a uma solução inusitada: morar no próprio local de trabalho.
De acordo com denúncias, os funcionários, empossados em maio, estariam se aproveitando de quartos ociosos no hospital para evitar pagar aluguel. Um áudio de uma das “moradoras” revela a estratégia: “Não vou pagar mais aluguel, fico aqui no hospital por vários dias seguidos, ninguém reclama. Faço plantão, remoções, fico de sobreaviso. Até como, almoço e lancho aqui dentro”.
A situação gera indignação entre outros servidores, que se sentem prejudicados. Uma denunciante, que preferiu manter o anonimato, explica que os novos colegas, muitos vindos de Campo Grande, estão se acomodando em quartos do CTI desativado. “Eles têm dois vínculos e ficam hospedados aqui. São motoristas, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Cada leito tem duas camas”, detalha.
Para a denunciante, a atitude dos colegas é um privilégio indevido. “Eu pago aluguel e me sinto lesada. Se querem trabalhar aqui e receber extras, não podem se beneficiar às custas da população. Pagamos impostos e eles estão tendo regalias”, critica.
O diretor do hospital, Cleiton Aparecido Bueno, nega as acusações. “Isso não tem como acontecer. Não permitimos lavar roupa no hospital e temos escalas que dividem os dias entre os servidores. Ninguém fica a semana inteira aqui”, afirma.
Bueno também ressalta que o quarto destinado ao descanso dos servidores durante o plantão tem apenas três camas e a equipe tem direito a apenas 1 hora de descanso. “São 117 funcionários no total e o uso da cama é rotativo. Em cada plantão de 24 horas, 5 a 7 pessoas podem usar o local para repouso”, complementa.
A situação em Ribas do Rio Pardo expõe as mazelas do crescimento acelerado, onde o aumento da demanda por moradia leva a preços exorbitantes e soluções precárias. A busca por alternativas pelos novos servidores, mesmo que questionáveis, revela a necessidade urgente de medidas para garantir moradia digna e acessível para todos.