Império de 26 anos ruído em meio a acusações de peculato
Francisco Cezário, cacique do futebol sul-mato-grossense por mais 26 anos, se viu cercado por uma tempestade de proporções épicas. Acusado de desviar R$ 6 milhões da Federação de Futebol de MS (FFMS), o dirigente foi preso em uma operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e agora luta para manter sua liberdade.
“No mais, defere-se o pedido de expedição de Ofício à CBF, com as nossas mais sinceras homenagens, para que a mesma avalie o caso concreto e, com a sabedoria que lhe é peculiar, nomeie com urgência o competente interventor para assumir a regularização do comando da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul”, informa a decisão do presidente do TJD-MS, Patrick Hernands Santana Ribeiro, publicada no último sábado (dia 25).
Desde a prisão, a FFMS está sem comando. De acordo com o procurador de Justiça Desportiva, Wilson Pedro dos Anjos, “pelo que tudo se vê e se fundamenta, a FFMS encontra-se com o cargo vago de Presidência e nenhum de seus vice-presidentes pode assumir as funções em face do afastamento do titular ante sua prisão decretada por decisão judicial por tempo indeterminado, inclusive tolhendo-se o direito da Assembleia a iniciar o procedimento de controle dos atos nos termos do art. 57 do Estatuto, porquanto sem o presidente ou seu substituto legalmente designado a Assembleia para tanto não poderá sequer ser convocada para as providências cabíveis”.
A investigação, que durou 20 meses, revelou um esquema complexo de desvio de recursos. Cezário e sua equipe se utilizavam de saques frequentes em espécie, em valores abaixo de R$ 5 mil para evitar levantar suspeitas, para desviar o dinheiro da FFMS. Estima-se que mais de 1.200 saques dessa natureza foram realizados, totalizando mais de R$ 3 milhões.
“Sendo passível de urgência e necessária intervenção da CBF junto à FFMS, nomeando um agente ou uma comissão para que, nos termos da lei, conduza o órgão como forma de dar continuidade às suas atividades administrativas e institucionais, sob pena de incontrolável, mas justificável clamor social pelos desportivas deste Estado, com prejuízo aos patrocinadores das competições e aos clubes, com o aumento da desconfiança e descrença num setor que gera renda e emprego, que é o maior esporte deste Estado, tal como do Brasil, que já foi 3º colocado no Campeonato Brasileiro de 1977 e já auferiu tantos outros títulos na seara futebolística nacional”.
Mas a artimanha não parou por aí. A organização criminosa também se beneficiava de um esquema de “cashback” em diárias de hotéis pagos pelo Estado durante os jogos do Campeonato Estadual de Futebol. Essa prática consistia na devolução de parte do valor das diárias, alimentando ainda mais o esquema fraudulento.
As graves acusações contra Cezário geraram um terremoto no cenário esportivo do estado. A FFMS se encontra sem comando desde a prisão do presidente, e o futuro da entidade é incerto. O TJD-MS (Tribunal de Justiça Desportiva) já deu prazo de 48 horas para que Cezário se manifeste e pediu à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) que nomeie um interventor para regularizar a situação.
O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) estima que o prejuízo total ao Estado e à CBF pode chegar a R$ 10 milhões. A sociedade sul-mato-grossense acompanha o caso com atenção e cobra das autoridades medidas rigorosas contra os responsáveis e a rápida nomeação de um interventor para colocar a FFMS nos trilhos.