Acuados pelo fracasso, dupla desfaz o “casamento político” que era vidro e se quebrou
Para concorrer ao governo estadual, após cinco anos e três meses de governo Marquinhos Trad renunciou ao cargo em 1º de abril de 2022. Era o Dia da Mentira. Coincidência ou não, na data ele entregava a prefeitura de Campo Grande para Adriane Lopes, sua companheira de chapa desde a primeira gestão (2017-20). A união feliz parecia um daqueles casamentos políticos e eleitorais arranjados para durar muito.
No entanto, depois de trocar derramados elogios e um considerar o outro um exemplo na gestão pública, esta reciprocidade veio perdendo terreno e cedendo lugar a cáusticos ataques, alguns inclusive com alusões depreciativas. É ano eleitoral, mas o desencanto tem outras motivações. Adriane quer a reeleição de prefeita e Marquinhos projeta recomeçar da estaca zero.
ELA & ELE – Ela, tendo nas mãos a poderosa caneta do Executivo não conseguiu justificar na gestão os elogios que recebia de Marquinhos. E ele, de igual modo, revelou-se um péssimo exemplo de homem público. Os desgastes de ambos não são invenções oposicionistas. Se Marquinhos fez uma gestão catastrófica, Adriane conseguiu aquilo que parecia impossível: piorou a catástrofe administrativa, financeira e ética que encontrou como herança.
Agora, como se acreditassem que a população tem memória curta, transferem entre si as responsabilidades pelo melancólico desgoverno, com deficiências acumuladas nos mais de sete anos controlando as políticas e contas públicas da Capital de Mato Grosso do Sul. Praticamente todos os serviços sob responsabilidade da prefeitura estão em situação desoladora, como demonstram o caos na saúde, a desvalorização dos servidores, a gastança com a contratação de assessores privilegiados por super salários e até uma suspeita folha secreta criada sabe-se lá para esconder o quê.
Sobre a saúde caótica, a prefeita decidiu, depois de dois anos, por a culpa na conta do parceiro de chapa. Afirma que pegou uma prefeitura com muitos problemas financeiros e estruturais. E então ele devolve alfinetando a prefeita ao dar sua versão sobre as longas filas e o precário atendimento nos postos. Lembra que a alertou para estar preparada quando chegassem maio, junho, julho e agosto: “São meses de pico de doenças respiratórias, qualquer campo-grandense sabe disso”, disparou, irônico.
PARCERIA É PARCERIA – O povo não tem memória curta. E ainda que tivesse, basta ir às noticias publicadas sobre a cumplicidade política entre Marquinhos e Adriane ao longo de seus dois governos. Há fatos e declarações que confessam a parceria. No dia 04 de abril de 2022, em ato solene na Câmara Municipal, Adriane tornava-se oficialmente a prefeita, tendo a seu lado o amigo e parceiro de chapa, Marquinhos Trad, que antes daquele momento ainda era o titular do cargo.
Já prefeita, ela prometeu solenemente, em alto e bom som: “Vamos dar continuidade a tudo aquilo que o Marquinhos e eu propusemos para nossa cidade”. Antes disso, no mesmo discurso, Adriane havia dito que seu grande exemplo foi Marquinhos Trad, “que está aqui ao meu lado. E nós queremos e pretendemos continuar no mesmo formato”. Porém, esta não foi a única vez de declarações mútuas de admiração e parceria, várias vezes compartilhadas pelo deputado estadual Lídio Lopes, marido de Adriane.
No dia 05 de janeiro de 2018, no segundo ano da dupla no poder, Marquinhos entrou de férias e passou o cargo para a vice ser a prefeita interina. Em solenidade na prefeitura, ele ressaltou a parceria iniciada com Adriane na campanha de 2016, destacando “a ética e a responsabilidade” da companheira de chapa. Garantiu que ela tinha voz ativa na gestão e proclamou: “Campo Grande vai ter à frente, nos próximos 15 dias, a governança de uma mulher que tem sido um sustentáculo de nossa administração”.