“Mar de rosas” anunciado por Adriane e seus vereadores tem o mau cheiro da falácia eleitoral
Depois de sete anos e quatro meses sem ver ou sem se importar com a catastrófica gestão que infelicita o município, a prefeita Adriane Lopes (PP) “descobre” a causa, culpa o antecessor Marquinhos Trad e anuncia um “pacote” milagroso de promessas para tirar Campo Grande da estagnação e do abandono. Ela e os vereadores cooptados para a sua base de sustentação, obcecados por mais quatro anos de mandato e cumplicidade, deixam exalar nos ares o mau cheiro típico da falácia eleitoral.
Como se a população não soubesse que ela e os seus vereadores são parceiros do poder que caiu nas mãos de Marquinhos desde 2017, Adriane tenta se desvencilhar desses laços e fazer de conta que só agora, a menos de oito meses de terminar seu reinado, começará a governar. Na base do “não tenho nada com isso”, ela entrou na semana distribuindo esperanças e juras de amor ao povo, apontando soluções maravilhosas para os problemas de uma Capital que só tem isto em seu reinado: problemas.
Em entrevistas – como a concedida à Rádio Difusora Pantanal terça-feira, 14, – ou atos solenes, Adriane descreveu para os próximos dias uma espécie de “país das maravilhas” com as medidas e obras que realizará para atender questões como as do transporte coletivo e das mazelas nos bairros. E sem reportar-se ao crime que continua cometendo por negar os adicionais de insalubridade e periculosidade à Enfermagem e à Guarda Municipal, a prefeita anunciou também, como se fossem bondade sua e não direitos da categoria, avanços sociais e trabalhistas, entre os quais o Plano de Carreira do Grupo Magistério.
Para fazer esta última promessa um ardiloso ato foi organizado, com a convocação às pressas de servidores da Secretaria Municipal de Educação (Semed) para uma assembleia-geral no dia 13, às 8h, no Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública (ACP). Este é um horário no qual os professores estão em pleno expediente nas escolas. Mesmo sem o quórum de número, a reunião aconteceu e Adriane, rodeada pelos seus vereadores, garantiu estas maravilhas, mas só depois das eleições, ou seja, no ano que vem, como se condicionasse a medida à sua reeleição.
SACO FURADO
Ao contrário do que fez desde janeiro de 2017, ao assumir esta gestão como vice-prefeita, até o ano passado, quando completou 21 meses com a caneta de prefeita nas mãos, Adriane elogiava o antecessor. Aplaudia e concordava – em gênero, número e grau – com o jeito que a cidade era tratada, destacava a capacidade financeira da prefeitura e exaltava as políticas públicas essenciais e até na transparência. Nem mesmo as mutretas e a politicagem que viraram escândalos, como o “Caso Proerd”, tinham de sua parte qualquer reprovação.
Contudo, chegou o ano eleitoral. E desde o início de 2024, em busca desesperada de fatos e atos para fabricar cenários favoráveis à reeleição, Adriane Lopes passou a transferir responsabilidades e a debitar na conta de seu parceiro da dupla política e administrativa toda a culpa pelo desgoverno. Se antes ela elogiava Marquinhos e hoje o responsabiliza, não comenta que a cidade continua do mesmo jeito com a mudança de titular na gestão. Na educação, no transporte, nas finanças, na atenção aos bairros, na habitação, no cuidado com as ruas e na saúde a situação é caos sobre caos acumulados pela gestão, que tem dois responsáveis diretos: Marquinhos e Adriane.
PROMESSAS VAZIAS
Tais promessas chegam como se fossem bacias furadas que deveriam l evar água a quem tem sede: vazias. A prefeita que quer seduzir os professores prometendo o Plano de Carreira é a mesma que se recusa a pagar direitos salariais previstos por lei aos trabalhadores. A prefeita que promete fazer do transporte coletivo um serviço confortável para o povo é a mesma que faz a Câmara aprovar uma “ajudazinha” de R$ 19 milhões às empresas que lucram com o sofrimento dos passageiros em ônibus velhos e sem ar condicionado, sem cobertura nos pontos e terminais deteriorados e enlatados como sardinha nas horas de pico.
As promessas são de uma prefeita que diz amar o povo e oferece a ele um sistema de saúde caótico, bairros largados à própria sorte e populações vulneráveis mal atendidas pelo poder público em suas diversas necessidades. Mortes e outros transtornos acontecem nesta triste pauta de desserviços. E a população, indignada, reforça e documenta com imagens em foto e vídeos toda a humilhação que sofre quando precisa da assistência da prefeitura.
A rede social traz todos os dias registros de cenas lamentáveis, como as que são mostradas por Thiago Grego. Em um de seus recentes vídeos no Instagram, Grego indigna-se com a falta até de cadeira de rodas nas unidades de saúde. Ele documentou a penúria de um homem que buscou socorro no posto da Coophavilla II e sem cadeira de rodas teve que sair rastejando pelos corredores para esperar a hora de ser atendido.
Thiago Grego reproduz as indagações das pessoas que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) e procuram atendimento em Campo Grande: “Nestas horas, cadê o poder público? Cadê o Ministério Público? Cadê os vereadores? Cadê a prefeita”. Evidentemente, não há resposta. Só promessas. Dentro de um saco furado.