Seria cômico, não fosse trágico: só falta prefeita e vereadores baixarem decreto proibindo adoecer
O martírio diário de milhares de pessoas que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) e procuram os postos de assistência da rede pública municipal em Campo Grande atinge proporções lamentáveis. Nem mesmo depois de registros de óbito e crises causados pela demora no socorro aos pacientes e outros problemas, a caótica situação das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e do Serviço Médico de Urgência (Samu) continua a mesma ou até pior.
Vários casos são relatados e informados pelos próprios usuários do SUS que se indignam com o descaso da prefeita Adriane Lopes (PP) com o panorama desolador, que se mantém inclusive sob o olhar complacente de uma Câmara de Vereadores que faz as vontades do Executivo. Hoje, dia 29, um trabalhador que passou mal quando saía de sua casa para trabalha teve que esperar mais de duas horas pela chegada do socorro público.
Moradores do Conjunto José Abrão documentaram tudo com fotos e vídeos, na Rua Lourival Gomes Machado. Um vendedor de garapa estava colocando sua carretilha para fazer o serviço nas rus, quando foi atingido pela tampa do porta-malas e caiu com a forte pancada. “Chamamos os bombeiros e o Samu, mas já tem mais de 1h30 e ninguém chegou”, disse um vizinho. Três horas haviam passado e o garapeiro continuava no chão.
UPA LEBLON
Na UPA Leblon, que é outro populoso bairro da cidade, esta mesma segunda-feira registrou casos semelhantes aos que vêm sendo testemunhados nos últimos anos. Pessoas sofrendo fortes e com problemas de pressão não conseguiam esperar em pé. Sem acomodações suficientes, sentavam-se ou até deitavam-se no piso frio da unidade. Uma idosa, deitada perto de uma lixeira, fez de sua bolsa um travesseiro.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), houve um aumento das ocorrências de Síndrome Respiratória Aguda Grave, o que causou o congestionamento de pacientes. No entanto, com ou sem esta síndroma, a superlotação só acontece por causa da incapacidade da gestão de reordenar e resolver os problemas do setor. Informa-se que em outras UPAS – entre as quais as do Santa Mônica e Coronel Antonino – também estão atropeladas pelas filas e a falta de condições para a demanda.
Por ironia, que nasce da revolta, pacientes do SUS já comentam que em breve, quando acabar o estoque de desculpas – o de remédios já acabou faz tempo -, a prefeita e seus aliados vereadores baixarão um decreto determinando que toda a população tenha a saúde em dia ou que ninguém fique doente.