Não há cães ladrando e tampouco caravanas passando.
Mas há fermentação de presenças e ausências, de decisões e de omissões, de ditos e não-ditos. São estes os entornos de uma gestão pública cujo conteúdo poderia ter vários nomes de batismo, clássicos ou irônicos. Hoje, algum vento outonal que deve ter vindo para socorrer os bairros da cidade, vítimas impotentes das chuvaradas, inspirou a escolha do adjetivo para a gestão: bizarra.
Pode ser que outra classificação se encaixasse melhor. No entanto, como se trata de uma avaliação de gestão, e não de gestora, a bizarrice soa com suavidade, bem mais palatável que algumas “pérolas” do gênero, tais como: tosca, incapacitada, insensível, desastrosa, caótica, retrograda. Tais “elogios” já são comuns nesta urbe quando o assunto é governo local.
Talvez o que é bizarro esteja melhor localizado do que o ingrato. A ingratidão é um defeito da alma e da consciência humana. Mas a bizarrice pode ser aplicada a um elemento fictício, a gestão. O problema é que em Campo Grande a gestão municipal cometeu o ato bizarro – e não ingrato – de ignorar o que já recebeu, em mão beijada, da gestão estadual.
Em miúdos: a gestão da prefeita Adriane Lopes não evitou e não resolveu os problemas sob a sua responsabilidade porque o Sr Reinaldo Azambuja fez uma distribuição de impostos que prejudicou a Capital, diminuindo-a para privilegiar o interior. Só faltou dizer que o governo do Estado deveria governar a Capital e deixar os outros 78 municípios ao “Deus dará”, do jeito que sua gestão faz com Campo Grande.
Ingratidão é palavra pesada. Chega a ser chula, porque rebaixa em excesso a estatura ética e os princípios das pessoas. Por isto o bizarro se encaixa perfeitamente. O bizarro é assim: estranho, anormal, assustador, desconhecido, surreal, absurdo, ilógico, desperta sensações de incômodo e perplexidade. Imaginem que até a conta da prefeitura com as empresas de transporte coletivo a gestão estadual vem ajudando a pagar. E isto desde a gestão anterior, assim como as grandes obras viárias e em outros tipos de investimento.
Bizarro não é ofensivo. Seria engraçado, não fosse lamentável. Seria cômico, não fosse trágico. O bizarro é o desconhecido e cabe muito bem na definição de uma gestão que em mais de sete anos ainda não conheceu a cidade que deveria estar gerindo. Quem sabe até outubro, no Dia D das urnas, a gestora se apresente aos moradores do lugar aonde mora e possa ouvir de todos: “muito prazer”. Seria bizarro.